sexta-feira, 25 de abril de 2014

É tempo de poesia




por: Verônica Oliveira

Há tempos, ao ser apresentada em uma sala de aula para a minha primeira experiência como professora de literatura, todos os alunos fizeram um xiiiiiiiiiiiiii, que me deixou intrigada. Considerando que aquele som de reprovação não poderia ser para a literatura, claro que seria para mim, os alunos não tinham gostado da nova professora. O diretor se retirou e eu iniciei a aula que transcorreu tranquila e participativa e quando eu pedi que eles avaliassem aquele momento, todos foram unânimes em afirmar que a aula tinha sido ótima. Perguntei, meio sem jeito, sobre o som inicial e eles disseram - ”fica fria, professora, o xiiiiiiiii foi para a literatura” e saíram correndo da sala, visto que a aula havia encerrado. Fiquei tão decepcionada com aquela resposta - como alguém poderia ter esse desprezo pela literatura? Uma das minhas disciplinas preferidas? Fui dormir com a pergunta martelando na mente e logo na próxima aula a discussão foi estabelecida. A resposta da maioria foi determinante na minha vida de educadora, ”como podemos gostar de literatura se passamos a vida toda sem ouvir falar nisso e quando chegamos ao segundo grau, lá se vem essa porção de escolas literárias, arcadismo, parnasianismo, romantismo, modernismo, e todos os ismos possíveis? “É um saco”, falaram alguns. Tive que admitir que os alunos tinham razão e comecei a planejar alguma coisa que ajudasse a preencher a lacuna que a literatura deixava para os alunos do ensino fundamental.


Nasceu assim a oficina de poesia Tecelagem de Sonhos, que foi implantada na Escola Coronel Murilo Serpa, em Russas. Eram idos de 1996 e os alunos puderam experimentar um tempo de muita fartura de “viagens” e produções de textos poéticos.

Para que os tecelões pudessem estar aptos a produzirem, participávamos de oficinas da lua cheia, em um sítio na localidade de Poço Redondo (em Russas/CE), onde cantávamos, recitávamos e criávamos textos coletivos. Semanalmente, nas oficinas na sala de leitura, tínhamos um momento de verbalização para que eles contassem como a poesia os havia visitado durante a semana e cada um havia ganhado um bloquinho e uma caneta para guardar junto a si e não perder o momento mágico e irrepetível da chegada dela. A culminância foi a visita à primeira bienal do livro de Fortaleza, onde os tecelões puderam conversar com Artur Eduardo Benevides, o Príncipe dos Poetas Cearenses.


Desde então vinha me trabalhando para lançar um livro que pudesse alcançar o maior número de leitores, de uma forma lúdica e dinâmica que apresentasse a poesia como uma iguaria pronta para ser degustada, que as pessoas que lessem, percebessem a leitura como um instrumento de prazer. Saiu do forno um livro cartão postal, com folhas soltas e uma proposta de não deixar a poesia presa.

Demorou um tempo, muito tempo? Diria que o tempo necessário para não sair cru nem tostado demais, saiu no tempo certo de espalhar poesia, ganhar o mundo e ajudar a gerar delicadeza em quem possa encontrá-la e se encantar com ela...

* Leia também um poema: Rebelião (Verônica Oliveira)


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Verônica Oliveira é licenciada em Letras pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), com formação em Educação Biocêntrica pela Universidade Vale do Acarau (UVA). Criadora e facilitadora do Projeto Tecelagem de Sonhos - Oficinas de Poesia para estimular a leitura e a escrita de alunos do ensino fundamental - EMEF Murilo Serpa/ Russas - CE, participou da coletânea de Escritores Palavra Russas, em 2011, e publicou o livro de poemas Entre a Bruxa e O Dragão/2014 de onde foi extraído o poema acima. Sua fan page é esta: https://www.facebook.com/entreabruxaeodragao.
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